Hernioplastia inguinal - abordagem, laparoscopia, dor crónica e recuperação
- André Goulart
- 9 de jul. de 2022
- 2 min de leitura

Abordagem (laparoscopia ou aberta?):
Com o avanço das cirurgias minimamente invasivas, é cada vez mais comum os doentes perguntarem se devem ser operados à hérnia inguinal por laparoscopia ou pelo método convencional (aberto).
As guidelines internacionais (HerniaSurg Group guidelines, 2018) recomendam o seguinte:
- Em equipas com experiência, o tempo que demora uma cirurgia por via aberta ou laparoscópica é semelhante
- A taxa de complicações durante a cirurgia e a taxa de recidiva (hérnia voltar a aparecer) é semelhante
- Doentes operados por laparoscopia retomam mais rapidamente ao trabalho
- O risco de dor crónica é menor nos doentes operados por laparoscopia
- Apesar dos custos da cirurgia serem superiores na laparoscopia, quanto analisados em conjunto com os custos do absentismo laboral, esta diferença diminui significativamente
Assim, as recomendações apontam para a laparoscopia como a técnica de eleição na maioria dos doentes com hérnia inguinal (obviamente se o cirurgião tiver experiência em laparoscopia).
No entanto, existem alguns doentes em que a abordagem aberta deve ser ponderada: doentes com recidivas de hérnia inguinais operados inicialmente por laparoscopia, doentes com antecedentes de radioterapia pélvica ou cirurgias pélvicas (ex.: prostatectomia).
Dor crónica: A dor crónica após a cirurgia a uma hérnia inguinal é definida como um desconforto/dor significativo no local da cirurgia que causa impacto nas atividades diárias e que se mantém durante mais de 3 meses após a cirurgia.
Nas abordagens cirurgias por via aberta, a dor crónica pode atingir cerca de 10 a 15% dos doentes. Nas abordagens laparoscópicas as percentagens variam muito entre os estudos, sendo que, em média, o risco de dor crónica é reduzido para menos de metade.
Para além da abordagem por via aberta, existem outros fatores de risco para o aparecimento de dor crónica:
- próteses de alta densidade (devem ser preferidas próteses de baixa densidade)
- mulheres e jovens
- recidiva de hérnia (segunda ou terceira cirurgia à mesma hérnia)
A dor crónica vai melhorando ao longo no tempo, no entanto pode ser necessário realizar algum procedimento (como por exemplo o bloqueio nervoso). Muito raramente pode ser necessário cortar os nervos que estão a causar a dor ou remover a prótese.
Recuperação: "Quanto tempo tenho de ficar parado?"
Esta é uma das principais perguntas que os doentes fazem após uma cirurgia a hérnia inguinal.
A maioria dos cirurgiões recomenda algumas semanas ou mesmo meses com base na sua experiência ou crença. No entanto, não existem estudos científicos que associem o retorno precoce às atividades diárias (quer sejam laborais ou de lazer) com uma maior taxa de complicações ou recidivas da hérnia.
O medo da recidiva precoce, quer do cirurgião quer do doente, leva a que o tempo de interrupção seja mais prolongado que o necessário.
Se a cirurgia decorreu sem complicações e o doente sente-se bem sem dores/limitações, as guidelines internacionais recomendam que o doente retome as suas atividades diárias entre o 3º e o 5º dia pós-operatórios.
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